O que aconteceu?
Os cientistas Andrew J. Cannon e Erich Bevacqua lideraram dois estudos que analisaram as temperaturas médias globais nos últimos anos e chegaram a uma conclusão preocupante:
- O planeta já passou por 12 meses consecutivos com uma temperatura média global 1,5°C acima dos níveis pré-industriais (período de referência: 1850-1900).
- Essa elevação marca uma ruptura histórica, já que o limite de 1,5°C foi estabelecido no Acordo de Paris como o ponto crítico para evitar os piores impactos da crise climática.
- Os modelos climáticos previam que o mundo poderia atingir esse limite entre 2030 e 2052, mas a realidade se adiantou às projeções. O aquecimento está acontecendo mais rápido do que o previsto.
O Acordo de Paris foi assinado em 2015 por quase todos os países do mundo com o objetivo de manter o aquecimento global bem abaixo de 2°C, de preferência, limitando-o a 1,5°C. Essa meta foi baseada em evidências científicas que indicam que ultrapassar esse valor poderia levar a consequências desastrosas para os ecossistemas e para a sociedade.
Os cientistas alertam que o fato de termos atingido essa marca por 12 meses seguidos não significa que o Acordo de Paris já foi violado permanentemente, mas é um sinal claro de que estamos muito próximos desse ponto crítico. Se nada for feito, em breve o mundo pode ultrapassar 1,5°C de maneira permanente.
Por que 1,5°C é tão importante?
A marca de 1,5°C não foi escolhida de forma aleatória. Estudos científicos mostram que o aquecimento global acima desse limite pode causar mudanças irreversíveis nos sistemas climáticos da Terra e desencadear eventos extremos com efeitos devastadores:
Eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos:
- Ondas de calor mais longas e severas
- Furacões e ciclones mais destrutivos
- Chuvas intensas, causando enchentes e deslizamentos de terra
Impacto na biodiversidade:
- Extinção de espécies que não conseguem se adaptar ao novo clima
- Branqueamento e morte de recifes de coral
- Perda de habitats naturais (como florestas e zonas costeiras)
Problemas na agricultura e na segurança alimentar:
- Perda de safras por secas ou inundações
- Redução da produtividade agrícola
- Aumento dos preços de alimentos e insegurança alimentar em regiões vulneráveis
Impactos na saúde humana:
- Aumento de doenças tropicais (como dengue e malária) devido ao calor e à umidade
- Problemas respiratórios causados por incêndios florestais e poluição
- Estresse por calor, desidratação e insolação
Elevação do nível do mar:
- Derretimento de geleiras e calotas polares
- Inundações costeiras e erosão de praias
- Deslocamento de comunidades costeiras devido à elevação do mar
Os cientistas afirmam que, se o mundo ultrapassar permanentemente 1,5°C, muitos desses impactos se intensificarão e alguns poderão se tornar irreversíveis.
O relógio está correndo: a janela de 20 anos
O segundo estudo, liderado por Erich Bevacqua e sua equipe, reforça que o mundo entrou em uma janela crítica de 20 anos. Essa é a fase em que há maior probabilidade de que o limite de 1,5°C seja ultrapassado de maneira permanente.
O que isso significa?
- Se as emissões de gases de efeito estufa continuarem nos níveis atuais, a chance de ultrapassarmos 1,5°C de forma permanente dentro dos próximos 10 a 20 anos é muito alta.
- Cada fração de grau acima desse limite tornará os impactos mais severos.
- O tempo para ação está se esgotando, a necessidade de cortar emissões e adotar soluções sustentáveis nunca foi tão urgente.
Embora o cenário pareça sombrio, os cientistas afirmam que ainda há tempo para evitar o pior, mas isso exigirá ação rápida e coordenada em escala global.
O que podemos fazer?
Transição para energia limpa – Investir em energia solar, eólica e outras fontes renováveis é essencial para reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
Proteção e recuperação de ecossistemas – Florestas tropicais, como a Amazônia, são fundamentais para absorver o CO₂ da atmosfera.
Mudança nos hábitos de consumo – Reduzir o desperdício, optar por transporte público e cortar o consumo de produtos de origem animal ajudam a diminuir as emissões de carbono.
Pressão sobre governos e empresas – Políticas públicas e regulamentações ambientais são essenciais para frear as emissões e garantir o cumprimento das metas climáticas.
Inovação tecnológica e mudanças industriais – A indústria precisa investir em tecnologias de baixa emissão, eficiência energética e captura de carbono.
A ultrapassagem da marca de 1,5°C não precisa ser uma sentença de fracasso, pode ser o alerta necessário para uma transformação global em direção a um futuro mais sustentável.
Os próximos anos serão decisivos para determinar se conseguiremos estabilizar o clima ou se ultrapassaremos um ponto sem retorno. Cada ação conta, tanto em nível pessoal quanto em decisões políticas e econômicas.
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