O Calor está matando em silêncio: A crise invisível que atinge as mulheres
O aumento das temperaturas causado pelas mudanças climáticas está trazendo consequências silenciosas, mas devastadoras para a saúde das mulheres — especialmente no Oriente Médio e Norte da África. Um estudo recente revelou uma ligação alarmante entre calor extremo e o crescimento nos casos de câncer entre mulheres. Câncer de mama, ovário, colo do útero e endométrio estão aumentando, impulsionados pela exposição a poluentes, radiação UV e inflamações causadas pelo calor.
Redação C3 TV
29 de maio de 2025 às 19:27:56

🔥 Calor Extremo, Gênero e Doença: A Dimensão Invisível da Crise Climática
As mudanças climáticas vêm sendo tratadas, com razão, como uma emergência global. No entanto, há uma faceta ainda pouco debatida dessa crise: os efeitos assimétricos que o aquecimento global impõe sobre diferentes grupos sociais — especialmente as mulheres. Um estudo recente publicado na revista científica Frontiers in Public Health trouxe dados alarmantes ao identificar uma correlação significativa entre o aumento das temperaturas médias e o crescimento nos casos de câncer entre mulheres no Oriente Médio e Norte da África (MENA). Mais do que uma questão médica, o fenômeno escancara o entrelaçamento entre saúde pública, desigualdade de gênero e clima.
🌡️ O Clima como Agente Patogênico
A pesquisa, que analisou dados entre 1998 e 2019 em 17 países da região MENA, observou que a cada 1°C de aumento na temperatura média, houve um salto expressivo tanto na incidência quanto na mortalidade por câncer entre mulheres. Casos passaram de 173 para 280 por 100.000 habitantes, enquanto as mortes aumentaram de 171 para 332 por 100.000. Os tipos mais comuns foram câncer de ovário, mama, endométrio e colo do útero — todos altamente sensíveis a alterações hormonais, inflamações crônicas e condições ambientais adversas.
Mas como exatamente o calor pode afetar o corpo feminino a ponto de favorecer o desenvolvimento de tumores?
🧪 Mecanismos Biológicos e Ambientais
A ciência vem identificando três caminhos principais pelos quais o calor extremo contribui para o surgimento ou agravamento de doenças crônicas em mulheres:
- Intensificação da exposição a poluentes cancerígenos
O aumento da temperatura eleva a concentração de ozônio troposférico, dióxido de nitrogênio e partículas finas (PM2.5) no ar. Esses poluentes penetram profundamente nos pulmões e na corrente sanguínea, gerando inflamações sistêmicas e mutações celulares. Mulheres, por apresentarem maior proporção de tecido adiposo, tendem a acumular mais toxinas ambientais — fator que contribui para o risco oncológico. - Estresse térmico e inflamação crônica
Altas temperaturas impõem um estado prolongado de estresse térmico, capaz de provocar respostas inflamatórias continuadas. A inflamação crônica é uma conhecida promotora de alterações celulares que favorecem o surgimento de tumores, especialmente em tecidos sensíveis como mama, ovário e útero. - Desregulação hormonal
O corpo feminino é altamente sensível a desequilíbrios endócrinos. O calor excessivo pode interferir nos sistemas de controle hormonal, afetando os níveis de estrogênio e progesterona, que por sua vez estão ligados a diversos tipos de câncer ginecológico. Além disso, o ciclo menstrual e a função ovulatória podem ser alterados por condições ambientais extremas, gerando vulnerabilidades adicionais.
Essa vulnerabilidade estrutural significa que mesmo quando o risco é compartilhado, o impacto é desigualmente distribuído. O corpo feminino, nesse contexto, se torna terreno onde se entrelaçam injustiças ambientais e sociais.
🧭 O Que Isso Exige das Políticas Públicas
Os autores do estudo reforçam que não é possível enfrentar a crise climática sem considerar o recorte de gênero. Isso significa:
- Integrar políticas de adaptação climática aos sistemas nacionais de saúde com ênfase em doenças femininas;
- Garantir acesso universal e equitativo a exames preventivos e diagnóstico;
- Criar programas de educação em saúde ambiental com foco em mulheres;
- Incluir mulheres na formulação e implementação de políticas públicas, especialmente em zonas vulneráveis.
A emergência climática é também uma emergência de justiça. Sem políticas sensíveis ao gênero, as mulheres continuarão a pagar o preço de um mundo em desequilíbrio — com o próprio corpo.
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