Grande Barreira de Corais se aproxima do “ponto sem retorno” após declínio histórico

Um Patrimônio Natural em Risco Sem Precedentes

Com mais de 2.000 quilômetros de extensão, circundando a costa nordeste da Austrália, a Grande Barreira de Corais é reconhecida como o maior organismo vivo do planeta — visível até mesmo do espaço. Declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, esta maravilha natural enfrenta agora sua maior deterioração desde o início dos registros científicos, há quase 40 anos.

Um novo relatório do Instituto Australiano de Ciências Marinhas (AIMS), publicado na última quarta-feira, revelou um cenário alarmante: 124 recifes analisados entre agosto de 2024 e maio de 2025 apresentaram níveis de branqueamento sem precedentes, levando os cientistas a alertarem que o ecossistema pode estar se aproximando de um "ponto sem retorno" — momento em que a recuperação natural se torna impossível entre eventos extremos.

Recorde de Calor e Declínio Generalizado

Segundo os dados, a temperatura da água na região atingiu o nível mais alto em 400 anos, com variações de 1°C a 2,5°C acima da média histórica. Esse calor intenso provocou estresse térmico extremo nos corais, desencadeando o branqueamento mais extenso e severo já registrado.

As perdas variaram conforme a localização:

Norte (Cape York a Cooktown): queda de 24,8% na cobertura de corais.

Sul (Proserpine a Gladstone): queda de 30,6% — o maior declínio anual desde o início do monitoramento, em 1986.

Centro: redução de 13,9%.

Em alguns pontos críticos, como nas proximidades da Ilha Lizard, o estudo identificou perdas de até 70,8% da cobertura coralina.

Causas do Colapso

O fenômeno do branqueamento de corais ocorre quando esses organismos expulsam as algas simbióticas (zooxantelas) que vivem em seus tecidos, responsáveis por fornecer alimento e cor. Sem elas, os corais ficam pálidos, debilitados e mais vulneráveis à morte.

Além do calor recorde, outros fatores agravaram a crise:

Ciclones no final de 2023, que danificaram fisicamente grandes áreas de recifes.

Enchentes que despejaram água doce e sedimentos sobre o ecossistema marinho.

Infestação da estrela-do-mar coroa-de-espinhos (Acanthaster planci), predadora voraz de corais.

Um Ciclo Cada Vez Mais Curto e Perigoso

O relatório destaca que o intervalo entre eventos de branqueamento está diminuindo. Isso significa que os recifes têm cada vez menos tempo para se recuperar antes que um novo estresse térmico ou desastre natural ocorra. Para os cientistas, a perda de biodiversidade é praticamente inevitável se o ritmo atual persistir.

Apelo por Ação Urgente

Com mais de 400 espécies diferentes de corais e milhares de espécies marinhas associadas, a Grande Barreira já esteve várias vezes na iminência de ser incluída na lista de Patrimônios Mundiais em Perigo da UNESCO.

Os autores do estudo pedem:

Redução drástica das emissões de gases de efeito estufa para conter o aquecimento global.

Aumento dos investimentos em pesquisas de adaptação e recuperação dos recifes.

Políticas ambientais mais rigorosas para proteger esse ecossistema único.

"O tempo entre esses eventos está cada vez menor, e a perda de biodiversidade parece inevitável. A recuperação pode levar anos — e, em alguns casos, talvez nunca ocorra", concluem os cientistas do AIMS.

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