O Futuro da Água Subterrânea no Brasil: um recurso invisível em risco
As mudanças climáticas podem reduzir a recarga dos aquíferos brasileiros, ameaçando a principal fonte de água de 112 milhões de pessoas. Se não agirmos agora, regiões como o Sudeste e o Sul enfrentarão crises hídricas cada vez mais graves. Mas ainda há esperança: preservar florestas, adotar soluções sustentáveis e usar a água com consciência podem garantir o futuro desse recurso vital.
Redação C3 TV
21 de agosto de 2025 às 19:52:02

A importância da água subterrânea no Brasil
Mais da metade da população brasileira depende direta ou indiretamente da água subterrânea. Estima-se que 112 milhões de pessoasutilizem esse recurso para o abastecimento doméstico, agrícola ou industrial.
A água subterrânea é armazenada em formações geológicas chamadas aquíferos, grandes reservatórios naturais que se encontram abaixo da superfície do solo. Quando chove, parte da água se infiltra lentamente na terra, atravessando camadas de areia, argila e rochas, até alcançar o lençol freático. Esse processo é essencial para manter o fluxo de rios, nascentes e poços — sustentando tanto os ecossistemas quanto as atividades humanas.
O alerta das mudanças climáticas
Estudos recentes conduzidos por cientistas do Instituto de Geociências da USP (IGc-USP) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram um cenário preocupante: até o fim do século, a maioria dos aquíferos brasileiros deve perder parte significativa de sua capacidade de recarga.
A principal razão é o efeito das mudanças climáticas, que alteram os padrões de chuva. Em vez de chuvas leves e distribuídas ao longo do tempo — ideais para a infiltração no solo —, estamos presenciando períodos mais longos de seca, intercalados com tempestades intensas.
Esse tipo de precipitação não consegue recarregar os aquíferos de forma eficiente. A água, em vez de penetrar lentamente no solo, escoa rapidamente pela superfície, provocando enchentes e erosão, mas sem alimentar o lençol freático.
Regiões mais afetadas
O estudo aponta que os impactos mais graves devem ocorrer no Sudeste e no Sul do Brasil, regiões onde a densidade populacional é maior e a demanda por água já é bastante elevada. A redução da recarga subterrânea pode chegar a 666 milímetros por ano em algumas áreas críticas.
Isso significa que cidades, lavouras e indústrias que hoje dependem fortemente desse recurso natural podem enfrentar uma crise hídrica severa nas próximas décadas.
Como funciona a recarga dos aquíferos
O processo de recarga é muito mais lento do que se imagina. Em diversos estudos, pesquisadores verificaram que a água da chuva pode levar dois a três meses para atravessar apenas 10 a 15 metros de solo e chegar ao lençol freático.
Ou seja: mesmo quando chove, isso não significa que o aquífero está sendo recarregado de imediato. Quando a chuva é muito forte e de curta duração, a maior parte da água não consegue penetrar profundamente no solo, se perdendo em enxurradas superficiais.
Desafios adicionais: desmatamento e poluição
Além das mudanças no regime de chuvas, outros fatores aumentam o risco de escassez hídrica subterrânea:
- Desmatamento: a perda da cobertura vegetal reduz a infiltração da água, pois o solo exposto absorve menos e sofre erosão.
- Poluição do solo e dos rios: contaminantes químicos e resíduos urbanos comprometem a qualidade da água subterrânea, tornando-a imprópria para o consumo humano.
- Expansão urbana desordenada: o excesso de áreas impermeabilizadas (asfalto, concreto) impede a infiltração natural da água da chuva.
Caminhos para a solução
Apesar do cenário preocupante, ainda é possível agir para proteger a água subterrânea no Brasil. Algumas soluções sustentáveis podem fazer a diferença:
- Reflorestamento e preservação de matas ciliares, fundamentais para manter o ciclo da água.
- Adoção de tecnologias de captação e armazenamento da água da chuva, aliviando a pressão sobre os aquíferos.
- Uso consciente da água pela população, evitando desperdícios.
- Incentivo a práticas agrícolas sustentáveis, que favoreçam a infiltração da água e reduzam a contaminação do solo.
- Investimento em saneamento básico, garantindo que resíduos não contaminem os reservatórios subterrâneos.
Conclusão
A água subterrânea é um tesouro invisível, essencial para a vida e para o futuro do Brasil. Porém, as mudanças climáticas e a degradação ambiental ameaçam a sua renovação natural.
Proteger nossos aquíferos não é apenas uma questão ambiental, mas também de segurança hídrica, alimentar e social. Com ações coletivas e políticas públicas eficazes, ainda é possível garantir que as próximas gerações tenham acesso a esse recurso vital.
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